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Usos e Costumes

Em Ázere havia várias moendas e pisões, onde os seus habitantes mandavam moer os seus cereais, que eram transportados em sacos chamados taleigos e que depois de moídos davam uma farinha finíssima, que se amassava em gamelas depois de levar o fermento, levedava. Enquanto isto, aquecia-se o forno, tendia-se a massa e cozia-se o pão, a deliciosa broa de milho branco ou amarelo, o pão de trigo e centeio.

Segundo dizem os antigos, havia por ali várias moendas, mas as mais faladas eram as do Sr. Francisco Tavares, que além da moenda, tinha anexa uma padaria, daí o cognominarem de Francisco Padeiro, na Foz da Ribeira; os pisões do Correia dos Santos e dos Borges na Encarreirada.

Estes nomes ainda hoje são recordados, através dos seus descendentes, pois ficaram conhecidos pelas famílias dos padeiros e dos pisões, e o mais curioso é que ainda o chamam o Toino do Pisão, Zé do Pisão, Armando do Pisão, Carlos Padeiro, etc.

As azenhas, eram tocadas pela água, que era desviada da Ribeira, para correrem nas levadas, autêntico sistema hidráulico, embora antigo, mas era eficiente.

Água canalizada não havia nem sequer fontanários. As moças juntavam em grandes ranchos com o cântaro à cabeça e iam abastecer-se à Fonte de S. Mamede ou numa poça que havia no Rossio por traz da casa da Firmina.

Os cântaros eram postos numa armação de madeira a que se chamava cantareira. Hoje já não é assim, toda a gente ou quase toda, tem água em casa, o que é muito mais cómodo.

Por ocasião das festas, que as havia e muitas, todos se vestiam com os seus melhores fatos, a que chamavam o fato de ver a Deus, aos domingos iam à missa e havia sempre comida melhorada e abundante.

Quando o ano começava, era a Missa Solene em que toda a gente implorava a Deus que desse um ano bom e de fartura. Depois vinha o Entrudo e os foliões juntavam-se e iam para locais estratégicos, levantar o véu a muitas coisas misteriosas que por ali se passavam.

Também havia a sessão da velha. Preparava-se um cortiço e ia-se para junto da casa de uma pessoa idosa e começava-se a serrar o cortiço dizendo dichotes um tanto ou quanto contundentes para as pessoas idosas. Mas estas por vezes reagiam e para cima da rapaziada vinha um líquido pestilento e mal cheiroso.

Corrido o Entrudo, entrava-se no período da Quaresma, já um período mais sério e que toda a gente respeitava.

O Domingo de Ramos era uma linda festa na nossa velhinha Igreja. Os rapazes levavam lindos ramos de alecrim e oliveira, todos enfeitados com frutos e desfilavam com eles perante o pároco, que lhes lançava a bênção, que depois eram guardados religiosamente ou oferecidos à Igreja.

Depois vinha a semana Santa, que todos respeitavam, pelo significado que representava, que era o sofrimento de Jesus Cristo, a sua paixão e dia da ressurreição. Sábado de Aleluia, ranchos de mulheres iam para a Igreja cantando a boa nova do ressurgir de Nosso Senhor Jesus Cristo, depois a missa e no Domingo de Páscoa, era a visita pascal a casa dos paroquianos. Estes por sua vez, punham uma mesa com a melhor toalha de linho, com o símbolo da nossa religião, que é a Cruz, e o Pároco acompanhado dos seus acólitos vinha desejar boas festas e dar a Cruz, devidamente ornamentada, a beijar.

As ruas eram enfeitadas com as mais variadas e lindas plantas.

Depois vinham as festas tradicionais, de verão de que falaremos mais adiante, e chegada a época natalícia, uma das mais bonitas tradições do cristianismo.

Pelo Natal reuniam as famílias na tradicional consoada, queimava-se o cepo no adro, no Rossio ou no largo do Pelourinho. O cepo tinha de ser roubado em quinta ou pinhal de rico. Por ali andavam as nozes, os pinhões, os figos secos e a jeropiga. Por vezes, ouviam-se estalos na fogueira que pareciam bombas, eram as castanhas que assavam. Depois da ceia e antes da Missa do Galo, todos iam para o recinto e começavam a cantar.

Depois era a Missa do Galo, assim chamada por ser à meia-noite. Era ouvida com o maior respeito e sentida religiosamente, com a máxima compostura. Terminada a cerimónia, iam todos aquecer-se ao calor do brasido do cepo que continuava a arder.

Passava o Natal, vinham as Janeiras e os Reis. Um grupo de rapazes e raparigas iam de porta em porta pedir as Janeiras cantando.

Que lindas são estas casinhas
Forradinhas de papel
Venha dar-nos as Janeiras
Em honra de S. Miguel.
Que belas são estas casas
Forradas de papelão
Venha lá uma chouriça
Em honra de S. João.

Ainda agora aqui cheguei
Pus o pé nesta escada
Logo o meu coração disse
Aqui, mora gente honrada.

Mas se o grupo não era bem recebido, o que raramente acontecia, era assim que cantavam:

Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto
Esta casa cheira a breu
Aqui mora um judeu.

Esta casa é de papelão
Aqui mora um ladrão
Esta casa é um ermo
Aqui mora um estafermo.

Depois juntava-se o pecúlio e festejava-se com uma valente patuscada, mas antes tirava-se a parte que seria entregue à Igreja para as suas obras.

ACUREDEPA

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